Solitário Inconsciente Coletivo

Thursday, November 16, 2006

O mundo está acabando, fui pro alto do meu prédio e fiquei ali olhando o céu avermelhar com a chuva de brasa que iria cair, adeus camada de ozônio, adeus pessoas, adeus planeta azul do sistema solar. As casas começaram a tremer, não sei por que só o meu prédio permanecia imóvel, vou morrer ouvindo música, foi a única coisa que pensei, MP3 player devidamente equipado com as minhas preferidas. Assim eu vi o mundo acabar, pessoas correndo de um lado pro outro, chovia gotas de fogo, eu sempre achei que um guarda-chuva de metal levar 5 na prova de escultura era um absurdo, a professora deve estar morta agora, bem feito, primeiro vão os injustos. Eu estou protegida. E lá de cima do meu prédio, tranqüila vi o mundo começar a acabar, era uma música bem alegre cantada por alguma dessas negras americanas bem comidas. Nas ruas começaram a abrir crateras enormes, carros indo pro fundo. Balancei a cabeça no ritmo da música, era o que me restava, a tranqüilidade de ver o mundo enfim se acabando para todos ao mesmo tempo, e eu lá do alto de guarda-chuva ouvindo música, tranqüila, sozinha, quer dizer acompanhada das minhas lembranças, escolhi a dedo as últimas coisas a pensar, logo que meu prédio começou a tremer, tirei o fone e percebi que só haviam gritos no ar. Botei de volta e aumentei o volume, não é isso que eu quero levar dessa vida, voltei pros meus pensamentos, amigos, pipoca, cinema, beijos, trepadas, família, meus animais de estimação, dormir abraçada, a minha pele com o cheiro dos outros, nessa hora até ri, eram tantos os outros, será que já morreram? Tomara que sim, hoje todos vão morrer e graças ao meu trabalho da faculdade vou rir por último e quem sabe melhor. Não vou pensar em ninguém, agora sou eu e o mundo se acabando, agora meu prédio parece que vai cair também, pulo fora ou vou junto? Essa dúvida sempre existiu, o mundo está acabando e isso é uma excelente oportunidade de ser egoísta, a chuva ficou mais forte, procuro uma música mais alegre ainda, levanto e começo a andar na borda, cantarolo a bendita canção. Aqui estamos, eu, melhores lembranças e o guarda-chuva. Jogo-me, caio lentamente com meu paraquedas de metal, são mais ou menos 6 segundos de queda, vou morrer estatelada no chão, mas não morro queimada, pelo menos isso, já me bastam as marcas na alma de todas as vezes que só o meu mundo acabou, quando o mundo de todos tiver acabado, pelo menos meu corpo estará salvo.


P.Siu1: Nadica de nada a declarar...visse!

P.siu2: Trilha do post? Trouble Sleeping – Corinne Bailey Rae

5 Comments:

At 8:48 AM, Blogger Blue Boy and the Gray World said...

Nossa apocalíptica, essa era uma faceta desconhecida, mas como d epraxe vamos colocar apolíptica sexy :D Cadê a continuação do texto?

 
At 6:40 AM, Anonymous Anonymous said...

Ótimo texto menininha! Que o mundo acabe, mas sempre a gente tenha como ficar em pé. ;)
Beijoquinhas p ti

 
At 1:31 PM, Blogger Adriano Mello Costa said...

Sue...um dos melhores textos seus, todo seu sarcasmo embutido em algo nao tao alegre assim...
gostei muito...
Bjos pra ti...
:))

 
At 7:47 AM, Anonymous Anonymous said...

estranho esse texto. não consegui ter uma opinião. :/

 
At 7:19 AM, Anonymous Anonymous said...

Eu tenho uma opnião... amei... surreal! Quase literatura fantástica... um sonho talvez? Uma realidade subjetiva... talvez?
"Biltiful"!

 

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