Como tudo começou...

Nosso primeiríssimo encontro foi a muito tempo atrás, eu era um pobre hebreu tentando fugir desesperadamente por aquela recém abertura do mar que Moisés com ajuda Deus fizera, ele, era ela, uma egípcia que assistia a tudo assustada, saí correndo na primeira oportunidade mas acabei tropeçando e ela ao invés de me denunciar, me olhou nos olhos, levantou-me do chão, me deu seu casaco para que eu pudesse sair escondido e assim me salvou, nunca mais a vi, mas o olhar e a mão estendida do inimigo me ajudando a fugir foi algo inesquecível.

O tempo passou, a época era outra, eu uma duquesa, ele, um jovem nobre de uma família rival, nos encontramos em um baile, cheio de pessoas burras e esnobes. E apesar de todos os conselhos de minha mãe para tomar distância daquele rapaz, o olhar e a mão estendida do inimigo me chamando para uma valsa foi inevitável, ali naquele momento, me entreguei à dança, a conversa, a risada, e ainda contrariando a tudo e a todos nos tornamos amigos em seguida amantes em seguida amigos, ele me ajudou a escolher um noivo, um vestido e eu um pseudônimo para seus contos eróticos.

No nosso próximo eu já era um jesuíta recém chegado a uma terra estranha, habitada por pessoas semi-nuas que não acreditavam e nem sabiam quem era Cristo, ele, era o cacique, que insistia em dificultar meu trabalho, até que um dia nos encontramos, não resisti o olhar e a mão estendida do inimigo, esse foi o primeiro passo rumo a minha compreensão da natureza como um todo, depois daquele momento, larguei a batina, aceitei a natureza como minha conselheira, casei com uma índia e me tornei um contador de histórias daquele lugar.

Esse talvez tenha sido o mais cedo que nos encontramos, eu devia ter 4 e ele 3 anos, eu, negra de cabelo impermeável, ele, branco com fios de ouro, ele do lado de dentro do cercado tendo acesso a todos os brinquedos possíveis, eu do lado de fora impedida de usufruir do ambiente, até que a pequena bola de pano atravessou o cercado e o preconceito. Ele veio em minha direção e o olhar e a mão estendida do inimigo renovou minha infância, todos os dias na mesma hora, brincávamos de passar a bola pela grade, me tornei mucama particular da casa e ele meu confidente, assinou minha libertação antes da princesa fazer isso para todos.

Ele, ARENA, eu, MDB e na década de 70 dividíamos horas na mesa do bar, o olhar e a mão estendida do inimigo com o copo de cerveja era o sinal de celebração de dois amigos que haviam feito faculdade juntos e tinham até então convivido muito bem, apesar das diferenças.

Hoje eu, sou ela, e dedico a maior parte da minha vida tentando desvendar os segredos da natureza, ele assim que se formou, cuspiu na beca e resolveu que o mundo que ele queria desvendar não era o biológico, talvez o social, econômico ou virtual, eu, adoro sair e encontrar com pessoas, ele bate no peito e se auto intitula anti-social, eu taurina, ele, ariano, mas quando ele me chama pra sair da realidade e viajar na busca da história perfeita, não resisto ao olhar e a mão estendida do inimigo

P.S 1: Ei esse texto é para o gostoso ou Leandro Raphael ou “Boy blues and the gray world” ou “Coração quebrado remendado” ou simplesmente o “R” do S&R Letras, obrigada por ter se tornado um inimigo tão intimo!

P.S2: Atenção todos os dados históricos foram supervisionados por équicimargina, por isso se tiver errado a culpa é dele, sou paleontóloga, fútil e agora loura, por tanto meu espaço de memória sofre sérias limitações, logo, fatos históricos que não seja a queda da Naomi na passarela sofreram shift + Del imediato.

P.S3: Sem ciúmes hein, eu te amo.

P.S4: Trilha do post? Madonna, não foi de propósito kkkkkkk, sei que tu não gosta dela, mas enfim, Confessions on a Dancefloor é tão legalzinho

P.S5: Atenção, estou sofrendo um processo gradual de bagulhamento, a coisa ta feia! Menos o meu cabelo é claro.