Solitário Inconsciente Coletivo

Thursday, July 28, 2005

Continuando a CENA 1

Primeiro eram os itens não perecíveis:

Peça de roupa do homem amado
Nome do amado escrito doze vezes em um pedaço de papel
12 velas sendo das cores vermelhas e brancas
Uma garrafa de cachaça
Um prato de barro para que as oferendas sejam colocadas

Agora vinham os perecíveis

uma galinha preta cozida
farofa
pipoca

Ela pensou que se talvez decorando com batata palha ao redor podia ficar mais bonito e quem sabe Adailton voltaria na verdade em dois dias! Mas desistiu ia fazer tudo como manda o figurino. É claro que ela não matou a galinha, na verdade desde a hora que ela chegou da feira nem olhava pra galinha que era pra não pegar afeição pela bichinha. Ela estava lá por uma única razão e essa razão tinha nome e RG. Quando a diarista chegou pela manhã a primeira ordem que recebeu foi em relação ao cardápio do almoço. Dona Edivalda (a diarista) era de uma dessas religiões evangélicas e se sentiu pouco avontade com aquele cardápio pro almoço... Mas como ela precisava do dinheiro resolveu nem questionar por que a patroa queria almoçar galinha preta cozida com farofa e pipoca. Fingiu que acreditava na explicação da patroa que desacreditava em misticismo e que a pobre galinha não tinha culpa de ser preta, além do que estava de regime e por isso se comesse farofa não podia comer arroz, e quanto a pipoca? A pipoca era de sobremesa!
Depois de algumas horas tudo pronto, material, método, escolha da área, na verdade tinha optado uma encruzilhada distante da sua casa, ninguém podia saber, senão ela seria queimada em praça pública pelos olhares dos vizinhos e o feitiço podia não dar certo. Ela bateu três vezes e mais três vezes e mais três vezes na mesa só por ter pensado na possibilidade de dar errado.
Hora, local e razão definidos, estava na hora de por o plano em prática. Era de madrugada, as crianças e velhos dormiam, jovens trepavam sozinhos ou acompanhados ou viam televisão ou não faziam nada, mas ficavam nas suas casas quietinhos e não nas encruzilhadas. Ela foi e colocou toda a parafernália, rezou, pediu, amarrou, chorou, implorou....Adailton seria seu custasse o que custasse. De repente o inevitável acontece, não, não era Adailton que apareceria, e sim um monte de cachorros vindo na sua direção acompanhando uma pobre cadela magrela de tetas caídas e vagina vermelha e inchada, exalando CIO por todos os lados. Os cachorros por um momento ficaram em dúvida de qual tipo de comida eles preferiam. Ela tentou solucionar o problema fazendo das velas um envoltório para que os cachorros não chegassem perto das comidas, mas eles pelo jeito optaram primeiro em comer a galinha pra depois atacar a cadela. Começaram a se aproximar, até que um tentou subir na costa dela, já que a magrela de tetas caídas não dava mole mesmo. Nessa hora ela pensou, tudo tem limite! Não era nem por Adailton, era por ela, não merecia levar uma gozada nas costas de um vira-lata sujo de farinha de macumba! Empurrou o cachorro e saiu de costa fingindo não perceber os barulhos dos cachorros atacando cada um dos itens da sua oferenda. Isso aconteceria mesmo, era o inevitável, relaxou.
Assim como era inevitável que Adailton voltaria em três dias, nem conseguia dormir direito, passa o primeiro dia, o segundo, o segundo e meio. Quando toca o telefone repentinamente. Óbvio que era Adailton, nada foi em vão, marcou de ir na casa dela, precisavam dividir os cds, os livros, ela já sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. E como foi de se esperar eles não suportaram a pressão da proximidade física que existe em todo casal recém separado que é de dois palmos, quando foram se despedir suas bocas automaticamente se acharam. No outro dia de manhã quando levantou tinha um bilhete pregado no espelho que dizia “Foi mal, tentei, mas não deu, espero que fique bem sem mim e sem a coleção do Beatles. Abraços, Adailton”. Ela chorando saiu de casa e assim que a porta se abriu ela disse pra senhora de turbante branco na cabeça, “Ele não podia só voltar, tinha que ter ficado também!”

4 Comments:

At 2:43 PM, Anonymous Anonymous said...

Susuia, tu és um gênia tragi-cômica! uahuahauhau Morri de rir lendo esse seu novo texto absurdo. A parte mais engraçada foi a explicação do cardápio... realmente impagável. =)
Beijinhos menininha querida

 
At 9:43 AM, Anonymous Anonymous said...

Fooooooooooooooda!!
Gostei!!!!

 
At 6:05 AM, Blogger Adriano Mello Costa said...

Adorei esse...um dos melhores Sue...ja copie para a minha pasta de textos favoritos...eheheh
:))

 
At 5:58 PM, Blogger Blue Boy and the Gray World said...

hauahauahauahau foi demais. Como vc sabe eu continuo vagando pelos seus textos antigos, quem sabe um dia vc acha este outro comentário

 

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