Solitário Inconsciente Coletivo

Friday, July 22, 2005

O que não se faz por Amor!

CENA 1: Ela estava decidida, aquele homem seria seu, por isso quando viu o cartaz na porta da casa que anunciava em caixa alta “TRAZ O HOMEM AMADO EM TRÊS DIAS” ela não teve a menor dúvida, era aquilo que procurava. Ao sair de lá estava com uma lista enorme de coisas que deveria reunir para o tal despacho que não iria despachar, mas sim trazer de volta Adailton, que seria seu custasse o que custasse.
Tudo pronto, quer dizer, quase pronto, faltava o principal item da lista, não, não era a cueca, camisa, meia do amado, isso ela tinha o suficiente pra fazer macumba até eles completarem bodas de ouro! Faltava a galinha preta. Ela pensou em ir ao supermercado e comprar aquelas galinhas semicongeladas já temperadas, quem sabe elas não teriam as penas pretas? quem ia saber? Afinal, só muda a cor da pena mesmo, por dentro galinhas são todas iguais. Mas como a incerteza desse ingrediente podia ser o causador do fiasco do seu plano, ela resolveu quebrar essa barreira e fazer esse sacrifício e ir atrás da galinha. A questão era, onde se compra galinha preta? Afinal supermercado e shopping lugares onde ela faz suas compras, jamais tinha visto uma se quer pra vender, pensou na feira, ela tinha escutado de uma amiga que lá sempre se encontra coisas exóticas de apelo popular. Chegando ao local vasculhou e até que encontrou a barraca que vendia a dita, muitas dentro de paneiros esburacados, as pobres todas amontoadas, amassadas, comprimidas... e ela lembrou daquelas imagens dos presídios brasileiros onde pessoas ficam espremidas em celas, olhando pelas frestas. Aquelas galinhas deviam estar implorando para serem servidas em sacrifício, pelo menos estariam mortas e seriam bem tratadas, qualquer fim seria melhor do que aquele meio.
Ela escolheu como quem escolhe um bichinho de estimação, afinal ela traria de volta Adailton em apenas três dias! Não podia ser qualquer uma. Só que na hora de levar a grande surpresa, elas só eram vendidas vivas! Ah não seu moço, mata ela pra mim, falou a pobre quase fazendo biquinho de choro. Mas o ruivão gordo de quase dois metros de altura e muitos colares de miçangas coloridas foi categórico quando disse, Não!. Ela estava morrendo de vergonha, mas a galinha aparentemente estava muito feliz, enfim ela tinha um paneiro só pra ela, e parece que ignorava o fato de estar amarrada pelos pés, ela não teria pra onde andar mesmo.
Decidiu não colocar a galinha no porta mala, rolou um sentimento de piedade, coisa tipo: eu vou te matar mas até lá prometo ser o menos cruel possível, ela falou isso olhando profundamente nos olhos da Pretchoca (assim ela foi batizada). Colocou ela no banco traseiro do carro, devidamente coberto de papel e enquanto dirigia ficou olhando pelo retrovisor e decidiu esclarecer as coisas com a galinha enquanto dirigia.
___ Oh! Senhora, gostaria de informar que sua vida foi convocada para uma causa muito nobre, não estou falando de ataques suicidas em prol da libertação de uma nação, nem da luta contra a tirania de um ditador que esconde bombas de destruição em massa em algum lugar do seu pobre país. Estou falando de Adailton, o homem perfeito pra mim. A senhora, dona pretchoca vai ser sacrificada em nome de um amor, em nome do amor que eu sinto por ele.
___ Có, respondeu a galinha e ela prontamente entendeu como um: Claro que sim moça linda e inteligente.
___ Dona Pretchoca, Adailton é um homem muito bom, não sempre claro, por que a gente não gosta de cara muito bom, por que fica com jeito de leso, mas na hora que precisa Adailton é muito bom, na verdade tem horas que ele ultrapassa a escala do bom e nem sei que adjetivo dou pra ele.
___Có
___Ai não seja tão indiscreta, não vou te falar que horas são essas, tem certas coisas que são particularidades de um casal. E riu compulsivamente enquanto dirigia, pensando nesse pequeno diálogo sureal que acabava de protagonizar, mas foi interrompida por um estranho barulho.
___Córinnncóriiinn. Fazia a galinha, como se tivesse se engasgando ou sei lá o que, ela não sabia se galinha se engasgava!
___O que a senhora tem dona Pretchoca?
___Córiiiin cóf, cóf, cóf, Córiiiiiin
___Meu Deus, dona Pretchoca fala comigo. Ela gritou no carro, falando alto e preocupada por que a galinha estava aparentemente desfalecendo, será que se a galinha morresse de forma natural ela ainda poderia ser utilizada? Ou será que aquilo era um apoiozinho de papai do céu, para poupa-lá de ter que matar a Dona pretchoca?
Chegou em casa a tirou logo do carro, desesperada com a possibilidade dela está morta, mas então foi perceber que na verdade não era nada demais, quer dizer na verdade ela estava só vocalizando diferente das galinhas dos desenhos animados, mas enfim como ela ia saber? Era uma moça criada na cidade, era o primeiro contato com uma galinha viva, até então só conhecia aquelas semicongeladas dos supermercados.
Botou todos os ingredientes em cima da mesa e começou a fazer um “x” em cada um dos itens, como se tivesse com a lista do supermercado..... A continuação vem no próximo post ta!

1 Comments:

At 7:29 AM, Anonymous Anonymous said...

Pô, coloca logo! Odeio ler as coisas pela metade... =P
Beijinhos Susuia

 

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